'Ela estava brincando quando foi atingida': a menina libanesa de 6 anos que luta pela vida após bombardeios israelenses
Noor Mossawi é uma das várias pessoas em estado grave em um hospital no leste do Líbano. Noor Mossawi, menina libanesa de 6 anos GOLKTAY KORALTAN-BBC Nas colinas do Vale do Bekaa, assim como em grande parte do Líbano, a morte pode vir do céu a qualquer momento. Israel tem bombardeado a região durante o dia todo, tendo desferido mais de 30 ataques aéreos em apenas uma hora. Até agora, foram confirmadas as mortes de 46 pessoas — e a expectativa é de que este número aumente.
Outras pessoas estão em estado grave no hospital, após os bombardeios da última semana. Entre elas, está Noor Mossawi. A menina de seis anos está inconsciente em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica, no Hospital Rayak, com a cabeça enfaixada devido a uma fratura no crânio. Sua mãe, Rima, está sentada ao lado do seu leito, segurando um exemplar do Alcorão e rezando. Ela conta que a filha é muito inteligente e bastante sociável: "Ela cria um clima muito divertido. A casa parece vazia quando ela não está por perto.
Ela adora conhecer gente nova." Tudo isso mudou na segunda-feira passada, dia 23, após um bombardeio israelense. Rima mostra um vídeo da filha orando, pouco antes do ataque. LEIA TAMBÉM: No Líbano, irmãs brasileiras sofrem com a perda de parte da família atingida por um míssil: ‘Acabou com a minha vida’ Israel volta a atacar dezenas de alvos do Hezbollah e mata 11 pessoas no Líbano Israel x Hezbollah e bombardeios no Líbano: entenda o mapa do conflito no Oriente Médio "Eu a estava acalmando, dizendo para não ter medo, que não iria acontecer nada. Ela estava pedindo ajuda a Deus e aos profetas", diz Rima.
Quando o bombardeio estava se aproximando, Rima estava agachada na porta da frente com Noor e seu irmão gêmeo, Mohammed. "Não fomos corajosos o suficiente para entrar, porque achamos que o prédio desabaria sobre nós se fosse atingido. Quando ficou mais intenso, peguei Noor e o irmão, e estava prestes a levá-los para dentro, mas o míssil foi muito mais rápido do que eu", diz ela. Este míssil deixou Mohammed com ferimentos leves, e Noor lutando pela vida. Enquanto conversamos, de repente, surge uma ameaça sobre nós. Ouvimos um avião e, em seguida, uma explosão que sacode as janelas e derruba a energia elétrica por alguns segundos.
É outro ataque aéreo. Rima mal reage. Enquanto sua filha luta pela vida, Abdallah acusa Israel de aterrorizar civis GOLKTAY KORALTAN-BBC O pai de Noor, Abdallah, chega para visitá-la — ele está furioso. "Por favor, filme minha filha. Ela não sabe o que são armas. Ela não sabe lutar. Ela estava brincando em casa quando o bombardeio começou. Eles [Israel] queriam aterrorizar as pessoas, para que fujam", ele diz. Israel diz que os ataques têm como alvo bases do Hezbollah, incluindo depósitos de armas e munições. Abdallah discorda: "Não temos nada a ver com armas. Não estou envolvido com a resistência [Hezbollah]. Mas agora gostaria de estar para poder proteger os meus filhos", diz ele. Minutos depois, alguns andares abaixo, as sirenes tocam enquanto uma ambulância traz os feridos do último ataque.
A equipe médica está correndo de um lado para o outro. O pronto-socorro é tomado por tensão. Há gritos de raiva, amigos e parentes chocados. Somos solicitados a parar de filmar. O hospital recebeu 400 vítimas de ataques israelenses desde segunda-feira passada - todas civis -, de acordo com Basil Abdallah, o diretor médico da unidade. Destas, mais de 100 morreram, e várias famílias perderam mais de uma pessoa. O médico Basil Abdallah diz que "a maioria dos enfermeiros e médicos estão deprimidos" no hospital GOLKTAY KORALTAN-BBC Abdallah nos diz que há trauma entre os funcionários, e também entre os pacientes: "Ver crianças bombardeadas, ver pacientes idosos e mulheres bombardeadas é difícil. A maioria dos enfermeiros e médicos está deprimida. Temos sentimentos. Somos seres humanos", ele afirma.
A maior parte da equipe permanece no hospital 24 horas por dia, uma vez que é muito perigoso arriscar voltar para casa. Israel está atacando por toda parte no Líbano. Não há ninguém para impedir. Por enquanto, o Hezbollah está travando uma luta limitada, disparando foguetes em direção ao outro lado da fronteira. O Irã, seu aliado, permanece à margem. Abdallah já está preocupado com a falta de medicamentos e suprimentos essenciais. Ele teme que esta seja uma longa guerra.
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